“Porque Deus
não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, amor e moderação”.2 Timóteo 1:7
Seguir o caminho
das virtudes e boa reputação, tem preço e consequência em um mundo moralmente
falido e de igual forma, a prosperidade. Haja vista, a questão do medo com o
qual se debatia o homem próspero do Oriente. Acerca desse mal, está escrito: “...
aquilo que temia me sobreveio; e o que receava me aconteceu.” (Jó 3:25).
Todo o medo tem origem, consciente ou “não”, pois, como dizia Parménides, o
pré-socrático: “Nada pode surgir do nada.”
Portanto, o temor do
homem em questão não era infundado, tratava-se de algo consciente, existente.
Isso fica claro no versículo, que enfatiza: “Nunca estive tranquilo, nem
sosseguei, tampouco repousei, mas veio sobre mim a perturbação.” (Jó 3:26)
Depreende-se aqui, que Jó debatia-se com algo real, previsível, que lhe deixava
perplexo. Saltando sobre as minudências dessa inquietação, lembremos que a
Bíblia diz: “o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso
e segurança para sempre.” (Isaías 32:17) pelo que se pode inferir que o
homem ímpar do Oriente, temia a injustiça devido à inversão de valores.
Jó era temente a
Deus, porém, não o conhecia conforme a confissão: “Eu te conhecia só de
ouvir falar, mas, agora te veem meus olhos” (Jó 42;6) Deus honrava essa fé,
entretanto, permitiu que fosse testada para, leva-lo a depender única e
exclusivamente d'Ele. A fé necessita da têmpera das provações, para que seja
inabalável. Apesar da assertiva: “em tudo isso não pecou Jó, nem atribuiu a
Deus falta alguma” (Jó 1;22 e 2;10), ao assalto da adversidade seu castelo
desmoronou e afloraram sinistros instintos. Então abrindo a boca amaldiçoou o
dia de seu nascimento (Jó 3;1ss). Após avalanche de indignação que vai do
capitulo 3 ao 37, reconhece a própria culpa e confessa: “Por isso me abomino
e me arrependo no pó e na cinza.” (Jó 42;6)
Deste contexto
conclui-se que ter conhecimento, acerca de Deus é diametralmente oposto à relação
(comunhão) com sua pessoa. Qualquer que se enquadre neste perfil corre risco de
endeusar sua fama, reputação e sentir-se orgulhoso do “status”, entretanto,
visto ser este um mecanismo de autoafirmação e justificação dará ocasião a um
medo sepulcral, devido o culto da "divindade" morta criada à imagem humana.
Afinal, onde há morte paira tenebroso terror.
Provérbios 26;2
diz: “... a maldição sem causa não virá”. De igual forma o medo tem sua
origem. Adão alegou temer o fato de estar “nu”, entretanto, saltou sobre
a consciência de sua transgressão. Destarte, o que realmente temia, situava-se
para além das palavras, que eram mecanismo de defesa; misero atestado de
pobreza e desfaçatez. Existe uma máxima que afirma: “Temer o mal é
ocasioná-lo.” Entretanto, não é o temor que ocasiona o mal, mas, a
existência deste na alma gera perplexidade. Uma análise coerente com os fatos
envolvendo a vida de Jó permite contestar a ideia que os flagelos são
consequência do medo, antes, resultam da consciência do próprio flagelo.
A calamidade de
Jó, não sobreveio porque temia. Seu medo era consequência do conhecimento a
priori, do que podia acontecer, bem como, de sua convicção empírica, do preço
da boa reputação num mundo diabólico. Enfim, a casuística do medo está
relacionada à consciência, da verdade, da realidade; de conhecer o bem e o mal,
sem ter poder de resistir a este, tampouco virtude para praticar aquele. É com este “fantasma” que a alma se debate. Ciente
desta realidade, o apóstolo faz a lúgubre constatação: “Miserável homem que
sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:24)
O Senhor Jesus,
teve medo, de ir para cruz. Porém, esta não veio por causa do medo, mas, este
por causa da cruz. A transgressão de Adão não resultou do medo, mas, este da
transgressão. O medo de Elias não era da fúria de Jezabel, mas, da consciência
de ter cruzado os limites do oficio, passando de profeta a carrasco e vingador
na chacina dos profetas de Baal. Não é pelo fato de temermos a morte que
morremos, porém, o que tememos é sua consciência e realidade, e não queremos
conviver com ela, pois, está associada à culpa e juízo divino ou seja, a causa
primeira do medo que está relacionada à consciência, à verdade, a DEUS.
O contexto informa
que Jó oferecia holocausto porque temia por seus filhos, dos quais tinha
consciência que eram blasfemos (Jó 1;5) Ademais, encontramos duas vezes Deus
proibindo o inimigo de tocar na vida de seu servo, porém, acerca dos filhos,
nenhuma recomendação; paira um silente hiato. Na contramão de certos ensinos
psicológicos, a Bíblia enfatiza que: “o temor traz consigo a pena e o que
teme, não é perfeito em amor” (1ª João 4;18) Portanto, não era de pânico –
o terror de Pã – que Adão fugia porém, da consciência de sua transgressão. O
fantasma, não era determinista e sim, de um atentado premeditado, de uma
escolha infeliz.
Todo ser humano
teme a morte porque sabe que estará nu diante do grande trono, e não terá como
esconder aquilo que verdadeiramente é. Se de fato tenho certeza que Deus está
no controle de tudo, não tenho razão para temer e mesmo que o medo assalte, é
possível superá-lo encorajado na confiança d’Aquele que nos conduz. O Senhor
Jesus temeu, entretanto, não desistiu da cruz, pois, colocou acima do medo, a
submissão à vontade de Deus e venceu na condição de homem, o maior dos medos; A
MORTE.
Na verdade, todo
ser humano teme a consciência, e trava uma luta ingente, para dela se livrar,
portanto, este paradoxo edipiano deixa claro que a luta anímica é contra a
bem-aventurança (felicidade), na ânsia de ser feliz, a exemplo de Édipo o rei
que na tentativa de fugir à desgraça acaba indo ao seu encontro, não por
fatalidade, mas, por recusa à verdade, realidade, consciência e a DEUS.
Destarte, é
possível vislumbrar, em parte o desabafo de Jó: “...aquilo que eu temia me
sobreveio, e o que receava me aconteceu” nesta linha de pensamento diz um
provérbio: “Quem teme ser vencido tem a certeza da derrota.”
Concluindo, quando
a Bíblia enfatiza: “não temais” quer simplesmente dizer não recue, mas,
avance contra o medo escudado no Senhor, e triunfará sobre ele: “Porque Deus
não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação”
(2 Timóteo 1:7).
Nenhum comentário:
Postar um comentário