10/03/2020

DESCULPAS - Este ardil é um pragmatismo estéril que atenta contra consciência e apesar de remediar o problema, não repara o dano. Implica descarte da misericórdia, um desarranjo do perdão e transgressão da lei de Deus.

Depois que inventaram a palavra ‘Desculpa”, ninguém mais se importa com o que faz” (dito popular).

Com relação à citação supra e sua dinâmica vem à luz o “determinismo” freudiano que tenta “des” culpar o infrator escamoteando o erro, de maneira que o culpado passa à condição de “vítima” da causalidade, das leis universais, do destino e congêneres; coisas alheias à sua vontade. Destarte, é impugnada não apenas a transgressão da lei, mas, também o livre arbítrio e consciência do pecado por quem o comete.

Não é de estranhar que tamanha astúcia desfrute tanta popularidade, afinal, a culpa é remanejada para o “in” consciente, o qual, corresponde a um calabouço com isolamento acústico onde o problema é trancafiado, entretanto, mesmo na condição afônica permanece logado no espírito humano cujo link, raramente recebe um clic do infrator, para que a “pagina" não seja acessada. Porém, Aquele que perscruta o coração tem um “backup” de cada ser humano salvo na nuvem onde não temos acesso. No entanto, a psicologia determinista com sua retórica induz o culpado sentir-se vítima e assim é estimulado em lugar de arrependimento; cobrar danos morais. Foi isso que fez Adão e o mesmo fazem seus filhos. Aquele, quando inquirido acerca do pecado redarguiu “A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi” (Gênesis 3;12) insinuando que Deus era responsável por sua danação.

O dilema em certos casos chega ao disparate de implicar que a alma lesada pelo contraventor é induzida defender o culpado mentindo que o tal, não é responsável pelo erro. Isso difere da misericórdia e do perdão, visto que, a primeira se compadece ante o quebrantamento do suplicante, o qual, também confessa a culpa e pede clemência. À vista disso, o pedido de desculpas é um ardil para defenestrar o perdão. Na verdade, perdão e desculpa como disse C. S. Lewis: “são duas palavras quase opostas.” Pelo simples fato que, “um ato falho sem culpa precisa de desculpa, e não de perdão. Da mesma forma, boas desculpas não precisam de perdão - já que o perdão exige culpa - e se você quer ser perdoado, não há desculpas para o que fez – pois, pedir perdão é assumir a culpa”. A ordem de Cristo ao ofensor é confessar e pedir perdão. E ao ofendido; Perdoar. (Ler Mateus 18;15-35)

Em sua dinâmica melodramática a arte de pedir desculpas ganhou novos contornos ao ponto de implicar que o “pedido” esconde escrúpulos que geram desconforto e insegurança a quem se dirige, haja vista que o suplicante pode estar apenas preocupado consigo mesmo, sua reputação, prestígio e bem estar caracterizando antes, um ato egoísta, que atitude de humildade e arrependimento. Esta inversão psicológica narcisista lembra o que disse o indiano Radhakrishnan: “Ama teu próximo como a ti mesmo pois tu és teu próximo. É ilusão acreditar que teu semelhante seja outro que não tu” Isso é uma forma sutil distorcer a lei de Deus fundada nos dois mandamentos. Amar a Deus acima de tudo e o próximo como a si mesmo, afinal “A estes dois mandamentos estão sujeitos toda a Lei e os Profetas” (Mateus 22;40)

Outras vezes o tal subterfúgio esconde unicamente o intuito de reaver privilégios e regalias perdidas pelo ofensor e novamente o desrespeito sobe ao palanque com retórica e habilidades demagógicas buscando o aval da ingenuidade, que sem escrúpulos patrocina a esperteza, a qual, se apresenta com indumentária de humildade. Isso equivale valer-se da boa fé, cuja confiança é incondicional. Entretanto, a Bíblia diz que: “...os maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados” (2 Timóteo 3;13)

O tal pedido é um pragmatismo estéril que atenta contra a consciência, única originalidade que restou no homem caído. É estratégia semelhante às reações do Chaves, que após nocautear o Seu Barriga recorre ao estereótipo “foi sem querer querendo” e quando o agredido protesta contra o dano sofrido ele reage “Tá! Mas não se irrite!” Porém, se o outro se mostra irredutível ele dramatiza “Ninguém tem paciência comigo!” E no caso de revide pelo ofendido, a hipérbole melodramática recorre à reclusão no barril, que é uma forma de auto flagelo, contudo, em todos os estágios da peça teatral, a chantagem entra em cena com ardil de retórica e recursos fictícios, sempre com objetivo de escamotear a culpa.

No primeiro caso apela para o determinismo alegando que o incidente teve origem fortuita (sem querer) e que talvez, o agredido estivesse na hora e lugar errado. Depois tenta persuadir insinuando que a “irritação” é intolerância e desequilíbrio. Em terceiro lugar o coitadismo entra em cena como vítima da falta de paciência – que ninguém tem – para consigo e por último recorre ao “silício” da autopunição. Visto por este prisma é impressionante a complexidade de distorções que pintam o surrealismo das desculpas. Este é um quadro, cuja popularidade concorre com aquele do menino chorando, o qual,  envolve uma “aura de mistério”. Assim é a “des” culpa. Não obstante todo esse esforço para esconder o erro, a palavra de Deus enfatiza: O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Provérbios 28;13)

O ardil por mais politicamente correto que pareça implica um desarranjo do perdão, um descarte da misericórdia e transgressão da lei. Sendo assim, mesmo considerado correto em termos psicológicos é injusto e anárquico quanto a lei maior. Por este viés pode-se vislumbrar o desfiladeiro das desculpas, que segue o caminho de Caim” (Judas v-11) equivalente ao falso moralismo e falta de fé, que desemboca no abismo da eterna perdição. Por outro lado, a ação contrária que tenta maquiar a culpa pode levar a desfechos graves como foi o caso de Caim, que inquirido por Deus sobre a morte de Abel disse “não saber” (Gênesis 4;9), como fazem hoje todos os que cometem delitos; reagem alegando nada saber ou mesmo amnésia ou se alguma coisa fizeram de errado, foi de forma “inconsciente”. Eis os artifícios para arranjar “des “culpa.

O contexto coloca em relevo o fato que a “desculpa” como forma de perdão ou de isentar a culpa é mero placebo que remedia a situação, porém, não repara o dano. Isso equivale ao “avental de folhas cosidas” (Gênesis 3;7), para mascarar o pecado. Finalmente, para que haja desculpa é necessário reconhecer e confessar culpa, pedir perdão e arrepender-se afinal, como disse alguém: Pessoas que são boas em arranjar desculpas raramente são boas em qualquer outra coisa.” Importa frisar que não pode haver paz interior para quem não perdoa e não se arrepende. Perdoar traz libertação interior pois, quando se libera perdão; as almas se tornam livres.

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